quarta-feira, 14 de março de 2018

Temporada 2018



Crítica do Segundo Caderno de O Globo (28/2/2018)

Crítica/ “Cauby, Cauby – Uma Lembrança”
Revival com bisbilhotices

Estreada em 2006, “Cauby, Cauby”, 12 anos depois acrescentou ao título o aposto “Cauby, Cauby – Uma lembrança”, e manteve Diogo Vilela como protagonista, e Flavio Marinho como autor e diretor. Mas pouco ou quase nada mudou neste revival, que, na esperança de igual aceitação das biografias musicais naquele período, ressurge com pequena adaptação que assinala a morte do cantor em 2016. E mesmo em relação a este registro, o texto segue o roteiro original. A narrativa na primeira versão, deixava evidente a dificuldade de biografar quem preferia se esconder na imagem construída. Na versão atual, são mais evidentes as especulações bisbilhoteiras sobre sexualidade, que nada acrescentam ou informam sobre a carreira do biografado. A insistência nas suposições sobre a vida do cantor não se revela a mesma para medir a importância de aspectos secundários da sua trajetória. A amizade com Lana Bittencourt é apenas pretexto para encaixar a repressão política dos tempos da ditadura. Os jovens encarregados de trabalho acadêmico sobre Cauby Peixoto não têm qualquer humor no seu despreparo primário. A fã, transformada em contadora dos acontecimentos, artísticos e pessoais, responde com a linearidade temporal, às perguntas banais do casal de universitários que conduz a sequência das cenas. O autor carrega em detalhes inexpressivos, em que a fama dos anos 1950/60 aos últimos anos, se reduz a uma figura de ternos brilhantes com perucas cada vez mais fartas. O repertório musical serve de baliza para o trajeto do sucesso ao declínio e as canções são o impulsionador da dramaturgia. A direção é servil ao texto, alongado e dispersivo, estendendo o espetáculo por dois atos de interesse decrescente. A cenografia e o figurino não alcançam unidade visual com a extravagância  das vestes do cantor, e com um desenho crítico de época. O elenco responde timidamente quando é exigido a interpretar figuras reconhecíveis, procurando na imitação, vocal e física, o que poderia ser resolvido na interpretação. Angela Maria, Lana Bittencourt e o próprio Cauby são recriados sob essa inspiração, sem arranhar a qualidade das vozes de Sabrina Kogut (Angela) e Aurora Dias (Lana), e a projeção estudada de Diogo Vilela (Cauby).