domingo, 19 de novembro de 2017

Temporada 2017

 Crítica do Segundo Caderno de O Globo (19/11/2017)

Crítica/ “Justa”
Manifesto discursivo contra a corrupção

Newton Moreno, autor de “Justa”, busca com abrangência temática, duplicidade estilística e narrativa alegórica, metáfora cênica para o que define como peça-manifesto. A corrupção, endêmica nos plenários legislativos, se confunde com a prostituição, símbolo da hipocrisia dos costumes, impulsionada por assassinatos justiceiros. Fábula de tantas morais e crítica de faltas éticas, ambiciona o palanque indignado com a sedução da crônica policial. São tantas as intenções, que resta muito pouco de consistência. O texto é narrado, e a ação discursiva, com os diversos pontos referenciais dispersivos (mistério, notícia, protesto) em trama sem ritmo evolutivo e peso provocador.  O entrecho converge para o discurso final, alvo da aversão que se imagina ter sido provocada pela exposição descritiva das misérias da política e violência da redenção. Como o caminho até ao exaltado manifesto é pouco calçado, a chegada é inexpressiva, longe do impacto pretendido e esvaziado por falsa eloquência. A cenografia de André Cortez aponta para direção bem diferente daquela adotada por Carlos Gradim. A proposta do cenógrafo é de jogar com o tom discursivo do texto, projetando uma bancada, com vários microfones e telas para exibição de vídeos de conotação dramaticamente explícita. A ambientação sugere uma palestra cênica, tirando partido da frontalidade da ampla mesa e da interferência das exibições. O diretor ignora o cenário, com marcações em torno do móvel de movimentação aleatória e gestos de significação intrigante. O desenho do diretor acentua o caráter palavroso de rede expositiva que quer capturar indignação social e causar resposta ativa. Patina nos bons propósitos, e escorrega na inflexão. A luz de Telma Fernandes compensa a subutilização do cenário, e a trilha sonora original do Dr Morris pontua a cena. Rodolfo Vaz assume, na integralidade, o papel de narrador, proposto pelo texto. Segue, com modulação informativa e certa linearidade vocal, o roteiro de descrever. A Yara de Novaes é imposta atuação que, mais ilustra do que interpreta.