quarta-feira, 19 de julho de 2017

Temporada 2017

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (19/7/2017)

Crítica/ “Solteira, casada, viúva, divorciada”
Estados civis se multiplicam em uma atriz

A atriz Stella Maria Rodrigues se multiplica em quatro personagens de cada um dos estados civis que o título das peças curtas, próximas a esquetes, reúne em espetáculo único. A solteira, de Noemi Marinho, a casada, de Luiz Arthur Nunes, a divorciada, de Regiana Antonini e a  viúva, de Maria Adelaide Amaral, dividem suas dificuldades de relacionamento com os homens, sem maiores pretensões, senão aquelas que possam estabelecer algum atrativo com a plateia. No quarteto de monólogos, pequenas observações sobre o comportamento feminino se distribuem em toques aos maus costumes e as diferenças com o masculino. A historieta da solteira, voluntária de um serviço de ajuda a solitários, aponta para a comédia com pitada dramática, logo reconduzida à trilha do comentário de senso comum. A exposição da casada apela, sem restrições, ao humor caricatural. O texto sobre a viúva é pouco mais do que o convencional, desenvolvido com carpintaria. A divorciada é quem ameaça provocar o riso. Consegue poucos. A voltagem cênica de textos tão despretensiosos é possível pelo diálogo fluente entre o carisma da intérprete e firmeza da direção. Alexandre Contini mostra habilidade na avaliação das possibilidades de explorar as características da atriz, e o alcance restrito dos textos. O diretor conduz a protagonista a distender, aos limites de sua versatilidade, o domínio do humor, e a individualização dos tipos. Mesmo quando os quadros caem de interesse e patinam em repetições, o ritmo não é quebrado inteiramente, em parte pela expectativa da próxima condição conjugal e da curiosidade de como o papel será desempenhado. Stella Maria Rodrigues é uma atriz de recursos, com bom currículo de cantora e de participação em musicais, que nesta coletânea de situações, dribla a padronização e os extremos em atuação prudente. Com inteligência de palco bem medida, avança no arco interpretativo com comedida doses de caricatura, comicidade popular e do desenho gestual. Mas essa mensuração expõe o temperamento contido de Stella em cena, o que exigiria, para melhor caracterizar a tipologia das mulheres, investimento em identidades mais performáticas.