Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (12/7/2017)
Crítica/ “Fauna”
Qualquer que tenha sido a pretensão da argentina
Romina Paula com a “Fauna”, suas ideias se perderam na confusa e sobrecarregada
narrativa. São propostas, de tantas e tão variadas segmentações, que o núcleo
de personagens se dispersa em traços esboçados e na trama que ambiciona discutir
relações artísticas. Cineasta e jovem atriz procuram desvendar, para escrever
roteiro a ser filmado, a vida de uma mulher, cujos filhos ambíguos parecem
marcados pela selvagem personalidade materna. Além de cavalgar pelos campos, e
de se vestir com roupas masculinas, essa figura vai sendo reconstruída através
dos ensaios para a produção do filme, que inclui o estranho grupo como ator. A
partir da falsa situação inicial, os conflitos, entre esse peculiar projeto
cinematográfico e as hesitantes motivações sexuais de cada um, são impulsionados
por citações literárias e, possivelmente, é duvidoso afirmar, pelo uso da
representação como metalinguagem. As intenções, em desacordo com as cenas,
criam um estranhamento, que deve ser creditado, tão somente, à inconsistência
dramática. O primeiro deles, é a leitura, sem razão aparente, a não a de adorno
beletrista, de texto do poeta Rainer Maria Rilke. A que se seguem, desejos
intempestivos e mudanças temperamentais inexplicáveis. A direção em dupla de
Erika Mader e Marcelo Grabowsky colabora, com o empenho de quem acredita no material disponível, não
se distanciando o bastante para perceber os problemas da dramaturgia. A
encenação reproduz as inabilidades de um entrecho que se perde em indefinições
e submerge em artificialismo. A montagem segue a mesma linha indistinta que
move a ação, tornando ainda mais vagas as atitudes dos personagens e
inexpressivas suas motivações. No cenário rural de Fernando Mello da Costa, os
quatro atores se movimentam em circuito em que os gestos exteriorizam emoções
postiças. Eduardo Moscovis se mantém equidistante e alheio ao já mal construído
cineasta. Kelzy Ecard procura dar alguma consistência à filha implausível. Erom
Cordeiro tenta marcar sua atuação, tanto nas investidas sensuais, quanto na
truculência do recluso. Erika Mader se confunde com a atriz iniciante que
interpreta.