quarta-feira, 12 de julho de 2017

Temporada 2017

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (12/7/2017)

Crítica/ “Fauna”
Ambições frustradas de metalinguagem

Qualquer que tenha sido a pretensão da argentina Romina Paula com a “Fauna”, suas ideias se perderam na confusa e sobrecarregada narrativa. São propostas, de tantas e tão variadas segmentações, que o núcleo de personagens se dispersa em traços esboçados e na trama que ambiciona discutir relações artísticas. Cineasta e jovem atriz procuram desvendar, para escrever roteiro a ser filmado, a vida de uma mulher, cujos filhos ambíguos parecem marcados pela selvagem personalidade materna. Além de cavalgar pelos campos, e de se vestir com roupas masculinas, essa figura vai sendo reconstruída através dos ensaios para a produção do filme, que inclui o estranho grupo como ator. A partir da falsa situação inicial, os conflitos, entre esse peculiar projeto cinematográfico e as hesitantes motivações sexuais de cada um, são impulsionados por citações literárias e, possivelmente, é duvidoso afirmar, pelo uso da representação como metalinguagem. As intenções, em desacordo com as cenas, criam um estranhamento, que deve ser creditado, tão somente, à inconsistência dramática. O primeiro deles, é a leitura, sem razão aparente, a não a de adorno beletrista, de texto do poeta Rainer Maria Rilke. A que se seguem, desejos intempestivos e mudanças temperamentais inexplicáveis. A direção em dupla de Erika Mader e Marcelo Grabowsky colabora, com o empenho  de quem acredita no material disponível, não se distanciando o bastante para perceber os problemas da dramaturgia. A encenação reproduz as inabilidades de um entrecho que se perde em indefinições e submerge em artificialismo. A montagem segue a mesma linha indistinta que move a ação, tornando ainda mais vagas as atitudes dos personagens e inexpressivas suas motivações. No cenário rural de Fernando Mello da Costa, os quatro atores se movimentam em circuito em que os gestos exteriorizam emoções postiças. Eduardo Moscovis se mantém equidistante e alheio ao já mal construído cineasta. Kelzy Ecard procura dar alguma consistência à filha implausível. Erom Cordeiro tenta marcar sua atuação, tanto nas investidas sensuais, quanto na truculência do recluso. Erika Mader se confunde com a atriz iniciante que interpreta.