sábado, 1 de julho de 2017

Temporada 2017

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (1/7/2017)

Crítica/ “Alair”
Olhares sobre corpos masculinos


Alair Gomes, personagem central do texto de Gustavo Pinheiro, pretende recuperar a imagem do fotógrafo que buscava, na praia de Ipanema, flagrar corpos masculinos. Até a sua morte, em 1992, acumulou acervo de fotos homoeróticas, ressaltando a estética de músculos e a nudez de rapazes, que convidava a posar em seu apartamento. A discreta captura dos físicos pelas areias da praia, se estendia a chamamentos, menos recatados, àqueles que se dispunham à exposição, ao natural, em seu estúdio. A relação, fortuita ou de desejo romântico, era vivida por Alair como expressão de arte. Pelo menos é o que a narrativa de Pinheiro procura identificar no contato do garoto que acaba por mata-lo, e no jovem a quem dedica sentimento mais duradouro. O autor se concentra em diário de viagem, em que são filtradas emoções através da natureza corporal. As vivências com os dois rapazes, são impressões corriqueiras de formas de atração, que asfixiam a construção dramática, e anunciam o assassinato como roteiro pré-estabelecido. Fraca, com restrita dimensão do personagem, pretensiosa nas divagações sobre a arte do belo, a narrativa acaba por se reduzir a história corriqueira. O diretor Cesar Augusto seguiu, com fidelidade irrestrita, o convencionalismo do autor, acrescentado a previsibilidade do exibicionismo como elemento condutor da ação. A elegia ao corpo definido do homem é o ponto de flexão cênica, movimento até o desvendamento total, em torno do qual as palavras circulam tediosas, antecipando o clímax. Em produção bastante enxuta, quase ausência de cenografia, substituída por iluminação de intervenção decisiva para a ambientação, de Tomás Ribas, a montagem cai em vácuos discursivos e projeções repetitivas. Os atores André Rosa e Raphael Sander desempenham papéis que exigem que o físico esteja em primeiro plano. E ambos se enquadram no requisito. Edwin Luisi não expande, nem contrai, o perfil opaco de um Alair desbotado. É apenas um intérprete no exercício de sua atividade.