domingo, 5 de fevereiro de 2017

Temporada 2017

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (5/2/2017)

Crítica/ “60! Década de arromba. Doc. Musical”
Féerie a serviço do grand finale 

Não há um formato único que defina as características de “60! Década de arromba. Doc. musical”. A começar pelas informações do título. Ao documentário, show, revista, musical temático, acrescenta-se ainda a participação de Wanderléa, que recebe o tratamento de estrela homenageada. E a indefinição se estende à fartura de quadros, multiplicação de figurinos, volume de canções e viralização de coreografias, em corrida pela espetacularidade, exibida como um gênero quase autônomo. O objeto da cena é a sua própria exaltação em busca de manter brilho efusivo em imagens apoteóticas. A dupla Frederico Reder e Marcos Nauer, que assina essa sequência cronológica de um estilo musical, persegue em dois atos, três horas e centena de composições a feérie até o grand finale, como se cada número tivesse que cintilar ao ritmo de apelos sensoriais contínuos. Até mesmo o videografismo de Thiago Stauffer/Studio Prime é conduzido pela superexposição dos acontecimentos e as curiosidades que informam sobre os arrombos da década. Tudo se transforma em efeitos para que o espectador seja estimulado pela história (do início do rádio aos anos 1950) e lembranças (o ambiente dos anos 1960). Não há texto, apenas os das projeções, com as músicas ocupando seu lugar em sequência narrativa. Os fatos vistos no telão, muito deles amargos, contrastam com a leveza do repertório da Jovem Guarda. “Splish, splash” pode ser ouvida logo depois de imagens da construção do Muro de Berlim, e o Brasil de 1964 ilustrado por “Exército do surf”. Com esse jogo de oposições, os autores criam comentários sobre o período, mas retomam, rapidamente, às ingenuidades do “Biquíni de bolinha amarelinha”, devolvendo ao palco as figuras dos bonecos Ken e Barbie. Tantas e tão prolíferas cenas não permitem que sejam percebidas, senão de passagem, as três centenas de figurinos de Bruno Perlatto. As roupas são exuberantes e, algumas vezes, costuradas no humor. A iluminação de Daniela Sanchez equilibra a tonalidade espetacular de show com os filtros azulados de números românticos. Victor Maia desenha unidade coreográfica com diversidade de movimentos. Natália Lana extrapola do palco para estender a cenografia, com objetos garimpados na década musicada, pelas laterais da plateia. O diretor musical Tony Lucchesi lidera com segurança os competentes instrumentistas. O elenco de 23 atores-cantores-bailarinos compõe o eficiente coro-protagonista em que Wanderléa é  presença reverenciada.