quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Temporada 2017

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (11/1/2017)

Crítica/ “Forever young”
Metaleiros da terceira idade

Um musical, escrito por um suíço, embalado por repertório de Nirvana, Led Zeppelin, Rolling Stones e alguns outros e com velhinhos decrépitos relembrando numa casa de repouso os seus tempos no teatro, não parece dar muita liga. A combinação de humor de ares alpinos com alguma rigidez helvética na organização do roteiro confere o mesmo peso da idade dos anciãos ao tom caricatural de investidas cômicas-melodramáticas. Reunidos em torno do passado hippie-teatral e vigiados por enfermeira durona, evocam, com corpos alquebrados e vozes trêmulas, coreografias, trechos de peças e canções dos tempos idos. O desfile de rabugices e senilidades dos seis nonagenários é interrompido pelo entra e sai da cuidadora que, através de letras cruéis, não deixa que o grupo esqueça da morte próxima e das mazelas do envelhecimento. Cada música é antecipada por um pequeno esquete que caracteriza e confirma  os trejeitos e as fragilidades dos corpos e da memória desse coro de vovôs. Tal como a sequência de um ponteiro de relógio, as cenas se repetem em movimento com único andamento e previsibilidade do mecanismo. Há interferências nesta monotonia modular com as citações a “Romeu e Julieta” e “A gaivota”, além de primário truque de mágica, mas que nada acrescentam aos alongados quadros das quase duas horas de espetáculo. A trilha é cantada em inglês, com exceção das músicas traduzidas da assassinada e, rapidamente, ressuscitada, enfermeira. O diretor Jarbas Homem de Mello, preso à estrutura repetitiva do roteiro, com soluções frágeis de comicidade popularesca e de pasteurização interpretativa, transforma o que já tem impostação predeterminada em cópia autorizada. A cenografia que homenageia o teatro brasileiro, reproduz cartazes de antigas encenações colados à parede de fundo, meio escondidos e mal iluminados. A direção musical, canções adicionais e piano de Miguel Briamonte têm a qualidade do músico competente, o que não se observa na sua participação como ator. O elenco, com disciplina bem ensaiada, se amolda à extravagância das perucas, do figurino e da preparação corporal. Jarbas Homem de Mello explora a sua maleabilidade acrobática na contramão da artrose do velho produtor. Vanessa Gerbelli com boa voz, ultrapassa a mesmice da atriz senil. Fafy Siqueira se desdobra como enfermeira-narradora-cantora. Paula Capovilla projeta a sua ótima voz. Drayson Menezes e Claudio Galvan são reedições dos velhinhos dos antigos programas humorísticos da televisão. Marcos Tumura, um hippie que mantém antigos hábitos de escapismo, tem a atuação mais segura, expandindo com competência as suas potencialidades vocais.