quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Temporada 2016

 Crítica do Segundo Caderno de O Globo (7/12/2016)

Crítica/ “O teatro de sombras de Ofélia” 
Na expectativa de um teatro de ilusão
De uma caixa de ponto, a voz de Ofélia instruiu os atores a agir em cena, até que não há mais teatro e somente lembranças nas falas de Shakespeare e Tchecov. Sombras caem sobre o palco vazio e vida sem figura própria da agora velha sai emudecida de cena. Fábula infantil do alemão Michel Ende, a história da solitária Ofélia se confunde com a projeção de imagens movimentadas em contraluz que ilumina contrastes. A adaptação teatral de Jonas Klabin, que traduz em várias linguagens (manipulação, música, palavra, gesto) narrativa onírica, está centrada na técnica do teatro de sombras e no manejo da luz. É necessário dar existência ao escuro, penetrar no mistério do teatro e nas trevas do abandono. Ampliar sentimentos em miniatura com luminosidade ilusionista é o desafio de montagem para  sustentar o espírito artesanal de origem. A direção de Jonas Klabin procura unir tantos e tão variados elementos em espetáculo que se integre a variedade de seus meios, e crie envolvência de melodrama lírico e de tributo às artes cênicas. A tentativa é parcialmente alcançada pela equipe empenhada em encontrar unidade expressiva na diversidade das exigências. A direção musical, composição e arranjos de Thiago Trajano insuflam sonoridade poética e sublinham o desenho harmônico da direção de arte e cenografia de Bia Junqueira. As projeções de Barbara Castro e Luiz Ludwig e manipulação de Carolina Garcia se destacam na luz de Luiz Paulo Nenen. E as interpretações dos atores e músicos – Carolina Garcia, Frederico Cavaliere, Grasiela Muller, Maria Clara Valle, Pedro Gracindo, Rafaela Amado e Zé Azul – fazem coro para o andamento delicado. Apesar de todo esse arcabouço criativo e dos destaques da equipe, “O teatro de sombras de Ofélia” não alcança o impalpável da fantasia e volatilidade do sonho.