Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (21/9/2016)
Crítica/ “Boa
noite, professor”
A narrativa, escrita e dirigida por Lionel Fisher
e Julia Stockler, é construída como drama psicológico que se apoia em diálogos até
o monólogo final, que explica a trama. O entrecho é conduzido por detalhes que
informam, menos as características dos personagens, e mais a dubiedade do seu
comportamento e de como suas atitudes servem à revelação redentora da verdade. A
aluna que penetra na casa do professor, pré-aposentado, sob o pretexto vago de
discutir trabalho acadêmico sobre a psicopatia, desvenda aos poucos o real
motivo da visita. A situação obscura, objeto de sua investida, transforma o
professor, a princípio, em ouvinte que, se percebe, em seguida, tem ligação
mais estreita com a suposta impessoalidade do tema da pesquisa. O tom
intrigante inicial, armado como um jogo de peças habilmente desarticuladas, é
sustentado pela fala da garota que avança com perfeita dosagem entre mistério e curiosidade. Quando o
professor, na metade dos pouco menos de 60 minutos, completa os fios
desencapados da rede em que ambos estão emaranhados, as sutilezas da
arquitetura dramatúrgica cedem à necessidade de consolidar o desfecho. Na
direção, a dupla trata o seu texto com sonoridade camerística, a começar pela
distribuição dos 40 espectadores no palco do Tablado. Ao estabelecer essa
proximidade, delimitada pelo cenário de José Dias, a tensão ganha temperatura
crescente que é trabalhada para alcançar o ponto em que se quebra o mistério.
Nina Reis conduz a Verônica, com respiração marcada e um certo ar distante, a
um espaço interpretativo sensível e encoberto de dúvidas. Mas somente até ao
momento em que a personagem tem papel ativo na cena, já que na parte final se
transforma em testemunha ocular. Ricardo Kosovski assume posição equidistante,
que se parece a indiferença, confundindo ar ausente com frieza. Ao ser portador
da revelação, o ator imprime intensidade desmedia por não ter sido construída evolutivamente.