Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (7/8/2016)
Crítica/“Cinderella”
Os musicais se consolidam, em sucessivas temporadas,
com presença influente no mercado teatral. As produções, não somente se
multiplicam em número, como refletem o amadurecimento técnico e artístico de
equipes cada vez mais capacitadas para as exigências do gênero. “Cinderella”,
de Rodgers & Hammerstein, produto importado com características marcantes
de origem, integra esse fluxo, numa demonstração de prática criativa e recepção
familiarizada da plateia. Por esses dois planos, circulam a tradução de Claudio
Botelho, a direção de Charles Möller, e
a tradicional história da menina redimida por um sapatinho de cristal. Musicada
e com reajustes narrativos, a Gata ganha alguma autonomia em relação ao
borralho, e a magia de caçadas e abóboras se transformam em projeções. Os
elementos do conto de fadas e a féerie da
comédia musical estão preservados em suas próprias características, sem
incomodar os nostálgicos e perturbar os aficionados. Mesmo que a música de
Richard Rodgers e as letras de Oscar Hammerstein II não tenham o mesmo brilho
de outras composições da dupla, são agradáveis e servem à fantasia romântica do
final feliz. A valorização da trilha pela direção musical e regência de Carlos
Bauzys, e a redundância de movimentos da coreografia de Alonso Barros, reforçam
os aspectos reminiscentes da história. Ainda que o cenário de Rogério Falcão e
os figurinos de Carol Lobato procurem não fugir ao tradicional, referendam com
eficiência lembranças iconográficas de imagens semelhantes tantas vezes vistas.
A capacidade do elenco em corresponder às exigências de voz e dança se
evidenciam em atuações bem compostas. Com sonora adaptação de Claudio Botelho e
comportada direção de Charles Möeller, a montagem cumpre o papel de
divertimento que flerta com o infantil e evoca memórias aos adultos.