domingo, 19 de junho de 2016

Temporada 2016

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (19/6/2016)

Crítica/ “Gilberto Gil – aquele abraço - o musical”
Abraço musical em repertório fértil 


O musical com roteiro e direção de Gustavo Gasparani evita a biografia para lançar um abraço musical no repertório de Gilberto Gil. São dezenas de canções, distribuídas em módulos que percorrem das origens sertanejas ao período da ditadura e da Tropicália, com exaltações à paz e ao amor, à negritude, à ecologia e à celebração rítmica de refestejar. O tempo de carreira do cantor e compositor e a permanência de sua obra estão contemplados na sequência vertiginosa com que “Gilberto Gil – aquele abraço - o musical” interpreta cenicamente quase oito dezenas de canções. À fartura de títulos corresponde a vibração coreográfica, em que vozes e instrumentos agitam o palco, emoldurado por contínuas projeções. Tanta abrangência, demonstra o desejo de relacionar a métrica de vida com a versificação de períodos sociais. É dessa conjugação que surge a dramaturgia musicada, a narrativa sonora de um repertório que se revela em letras que contam, não uma carreira, mas uma obra. Gasparani foi generoso na apresentação das canções, exibindo, em incansável sucessão, a variedade cadenciada de uma criação fértil. Tanto o roteiro quanto a direção, se apoiam no volume e na exuberância, como elementos físicos, que melhor interpretam  letras e músicas. O elenco, formando por atores, cantores, instrumentistas e performers, se distribui por todas as funções, num conjunto onipresente de gestos e vozes que se movimenta com notável fôlego. A direção de movimento e coreografia de  Renato Vieira, marcantes nos primeiros quadros, tendem a se repetir nos demais. A cenografia de Helio Eichbauer  projeta imagens bem escolhidas nas telas geométricas. O figurino de Marcelo Olinto, que registra cada fase musical, e a iluminação festiva de Paulo Cesar Medeiros, compõem a montagem com a consistente direção musical e arranjos de Nando Duarte. O grupo de intérpretes – Alan Rocha, Cristiano Gualda, Gabriel Manite, Daniel Carneiro, Jonas Hammar, Luiz Nicolau, Rodrigo Lima e Pedro Lima – revela harmoniosa integração à proposta multiplicada e excessiva da encenação.