domingo, 22 de maio de 2016

Temporada 2016

Crítica/ "Como me tornei estúpido" 
Inspiração no livro para descobrir do que rir

Como se fazer estúpido para se provar inteligente e escapar das pressões que assolam o cotidiano. Experimentar-se como tolo para superar o que se oferece como valor tão inconsistente quanto a necessidade de adotá-lo é uma tática para não sucumbir às tantas e falsas exigências contemporâneas. Deste modo, o personagem central do livro do francês Martin Page, adaptado para o teatro por Pedro Kosovski, faz tentativas de se alinhar com a maioria para se sentir como integrante e participante do todo. Vale tudo para não ficar de fora, numa escalada radical de tornar-se alcoólatra ou mesmo investir no suicídio. A ironia e o ceticismo que marcam o impulso do solitário num mundo de vulgarização, que está na base do livro, fica em plano secundário na versão cênica. As referências ao consumismo, seja em citações de publicidade, a cantores e pintores populares, e ainda ao mundo digital, antes de acrescentar bônus cômico, paga pedágio à facilidade da banalização. Não que o humor de Page seja especialmente sofisticado, mas se estrutura em outro plano, o do humor verbal e não da comédia de situações. No palco, mesmo que seja necessário criar uma cena com autonomia e características  próprias, a ausência de equalização com a comicidade original, leva à perda da eficácia do translado. Fica-se sem saber do que rir, se das simplificações das brincadeiras ou dos aforismos do autor. Sérgio Módena escolheu ampliar as indicações menos sutis da adaptação, acentuando a tonalidade mais popularesca e diluindo as cores acentuadas da sátira. O diretor ativa a cena com intenso movimento e acelerada troca de quadros, numa velocidade que atrapalha, igualmente, o resultado da equação humorística. O quarteto do elenco – Alexandre Barros, Gustavo Wabner, Marino Rocha e Rodrigo Fagundes – se empenha em manter o ritmo agitado e o jogo cômico. Como demonstram alguma identidade com o humor de comunicabilidade direta, mantêm suas interpretações em sintonia com a proposta do adaptador, traduzida, regradamente, pelo diretor.