sexta-feira, 13 de março de 2015

Temporada 2015

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (13/3/2015)

Crítica/ Noite Infeliz – A Comédia Musical das Maldades
Versão envergonhada de programa popularesco de televisão

Independente de eventuais qualidades e defeitos, ”Noite infeliz”, espetáculo roteirizado por Maurício Guilherme, sofre de um pecado original: não sabe o que quer ser. Aponta para o musical de bolso, para desmenti-lo em seguida, ao reduzir-se a sequência de esquetes, que se desfaz, logo depois, na repetição das cortinas do velho teatro de revista. A multiplicidade de indícios, indecisão de estilos e desvios confusos fabricam um produto híbrido, que não atende a qualquer dos atalhos em que se dispersa. São quadros soltos que perseguem narrativa de pouco fôlego e ritmo, sempre atrás de humor que ative a comunicabilidade. Resulta em desfile de piadas sem desfechos e trama sem desenvolvimento. Ao hesitar sobre o gênero no qual deseja evoluir, o roteiro tenta se unificar através dos diversos tipos de maldades com que cada esquete ensaia avançar. Mas também nesta procura de unidade temática, o espetáculo se frustra. Por não conseguir construir com pequenas vilanias, vagas perversidades e tolas citações, passa ao largo da possibilidade de construir entrecho mais inteligente e inventivamente despretensioso e divertido. O diretor Victor Garcia Peralta se mostra pouco empenhado em buscar unidade para o roteiro fracionado e organicidade para um show de variedades. Não há surpresas, comicidade e irreverência na sucessão de números cômicos, precariamente integrados às intervenções musicais. Apesar do figurino de Antonio Guedes desenhar, ainda que com timidez, uma linha visual e a iluminação de Maneco Quinderé lançar colorido no palco, são as projeções de Rico Villarouca que melhor resolvem a ambientação econômica do espaço cênico. Villarouca cria tridimensionalidades com imagens que acompanham as mudanças e exigências de troca contínua de cenografia. A direção musical de Paula Leal e de movimento de Sueli Guerra ficam prejudicadas pela resposta restrita na extensão corporal e no alcance vocal do elenco. Maria Bia é quem melhor se sai com boa voz e certa malícia interpretativa. Mariana Santos faz  avaliação muito ampla do que seja cômico. Françoise Forton se coloca em plano secundário. Rodrigo Fagundes não controla os limites para o exibicionismo, enquanto Érico Brás não encontra, apesar dos muitos truques a que recorre,  o papel de condutor da montagem. Ao final, se constata que “Noite infeliz – A comédia musical das maldades” segue rumo bem definido, se não estilisticamente, ao menos na origem. É uma cópia, mal traçada e envergonhada, de programas popularescos de humor exibidos na televisão.