quinta-feira, 10 de julho de 2014

Temporada 2014

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (9/7/2014)

Crítica/ Entrevista com vândalo
Manifestações de junho de 2013 sem olhar cirúrgico

O primeiro texto teatral do antropólogo e ex-secretário nacional de Segurança Pública e autor dos livros “Elite da Tropa” e “Elite da Tropa 2”, Luiz Eduardo Soares, é uma aproximação política-existencial das manifestações de junho de 2013. Ao manter equidistância entre a reportagem fotográfica e o agit prop analítico, distendeu o arco dramático aos dois agentes da explosão urbana do ano passado: um black bloc e um policial. Reunidos por diretora para encenar espetáculo sobre os acontecimentos, o jovem ativista e o policial infiltrado se digladiam na construção de uma narrativa que acomode a fonte dos seus ódios. Não encontram uma linguagem comum, cenicamente, mas o que cada um traz das ruas são as desigualdades que os lançaram a elas. O ensaio de triângulo amoroso serve apenas como acessório a uma discussão, que tal como as polaridades dos choques de comportamento, é mantida em aberto, na mesma voltagem das incertezas. A ambição do autor em refletir sobre fatos tão recentes e de complexidade político-social sem maior domínio da técnica dramatúrgica, pode ter levado a que se pensava ser informação, resultasse em alusões a dados. A própria estrutura do texto mostra dificuldade em ordenar as opções estilísticas ao longo da ação. De início, experimenta-se algum estranhamento, para em seguida fixar-se no realismo e finalmente cair na comédia, deixando pouco espaço para a clareza expositiva e a condução dos diálogos. São enquadramentos estanques, que jogam em  diversas direções na caracterização dos personagens como protagonistas sociais e individuais. Ao mesmo tempo em que surgem como figuras em oposição, aparecem unidos pela consciência difusa de seus papéis, para se distanciarem ainda mais na pantomima da sua manipulação pelo poder. O diretor Marcos Vinícius Faustini reforçou esses três planos, como se cada um deles fosse uma cena independente e se fechasse em si mesma. Um certo impacto que o primeiro quadro provoca, é substituído por relativa tensão, logo desfeita pelo humor satírico. É na comicidade que Faustini alcança maior comunicabilidade com a plateia, demonstrando intimidade com linguagem popular de efeito direto. Márcio Vito como o policial tem interpretação expansiva, sem detalhamento,  que utiliza com eficiência como o governador. Ian Capillé está apagado para um manifestante e caricato como o coronel e seu indescritível bigode. Valquíria Oliveira tem participação secundária, tanto como a diretora, quanto como a secretária do governador.