terça-feira, 15 de outubro de 2013

35ª Semana da Temporada 2013


Crítica/ Quem Tem Medo de Virginia Woolf?
Longa noite de bêbadas confissões
O texto de Edward Albee, um dos mais bem acabados exemplares do realismo psicológico americano, mostra um certo desvio de rumo ao estabelecer relativa disfuncionalidade ao estilo. A exposição de um relacionamento desenvolvido como uma zona emocional de existência autônoma de um casal, com características definidas e localização no espaço, amplia-se como substrato de jogo dramático que se constrói como ressignificação de realidade. A longa noite de bêbadas confissões em que mergulham Marta e Jorge, compartilhada pelo jovem casal, eventual aspirante de acordo semelhante ao do par anfitrião, se projeta como sombria fratura em união indissociável. Na condução do crescente desvendamento de código perverso de convivência e de laços subterrâneos de sentimentos, a narrativa explora, em ritual que imola os contornos da intimidade nas chamas das conveniências sociais, o corpo em carne viva do casal. A direção de Victor Garcia Peralta se aproxima, de início com alguma retração, dessa exposição doentia, ao não estabelecer atmosfera muito desenhada e cruamente intrigante. Há visível cuidado em tratar com relativo humor o que já se apresenta como difusa angústia e impasse emocional. Mas as exigências próprias do texto e o adensamento nas interpretações do elenco ajustam, progressivamente, o clima para que o dolorido embate se realize com vigor. A cenografia de Gringo Cardia procura fugir do ambiente de gabinete, ampliando os limites do sofá com exterior de árvores e miniaturas de casas iluminadas, apoiando-se no efeito do palco giratório. A destacar a tradução de João Polessa Dantas, que ao mesmo tempo em que se mantém fiel ao original, introduz pequenas atualizações nacionais de linguagem que soam muito bem. O casal visitante é vivido por Ana Kutner, que carrega um pouco além na composição da jovem de inteligência limitada, e por Erom Cordeiro, que mostra certa uniformidade na apreensão do personagem. Zezé Polessa modula os vários estados aos quais Marta é submetida no decorrer desta noite dos desesperados, com firme e consistente interiorização, capaz de criar momentos de surpreendentes nuances. Daniel Dantas assume com autoridade interpretativa a fraqueza, humilhação e domínio de Jorge, demonstrando em sofisticada e madura atuação a complexidade do personagem  que percorre múltiplos atalhos emocionais.

                                                       macksenr@gmail.com