sábado, 21 de julho de 2012

Cena Curta


Mostra Sesc São Paulo 2012
O-Z: experiência em torno da linguagem
Pela 15ª vez o Sesc paulista realiza mostra de arte que reúne várias manifestações – artes plásticas, música, cinema, literatura e teatro – com participação de produções nacionais e internacionais. São mais de 70 intervenções nas unidades da instituição espalhadas pela capital paulista, sob a perspectiva de “estimular indefinições e suspensões em relação às gavetas em que costumamos encaixar nossos costumes, nossa convivência e nossa percepção sobre a arte”. Na área teatral, essa visão se estende para grupos e companhias, daqui e de fora, que até o dia 29 de julho percorrem campos exploratórios da linguagem cênica contemporânea. Segundo a curadoria da mostra de teatral, “as escolhas foram pautadas por obras que revisam procedimentos e/ou convenções pré-estabelecidas, em que as matrizes tradicionais são revisitadas sob novas perspectivas ou que tenham como principal característica a apropriação e releitura estética, colocando em debate a ressignificação ou reestruturação do jogo  teatral e a exposição ou implosão das estruturas (ou "regras do jogo") que compõem a cena. Algumas das produções presentes também são marcadas pelo hibridismo de linguagens ou pelo uso criativo de novas tecnologias e o que notamos na relação final é a abrangência de temas de interesse e o diálogo com modelos consagrados na composição de novas proposições estilísticas”. Em edições anteriores, a mostra exibiu nomes significativos da cena atual como Kazuo Ohno, Christoph Schlingensief, Patrice Chereau, Olivier Py, Bob Wilson, Ariane Mnouchkine, Enrique Diaz, Felipe Hirsch, Gerald Thomas, Michel Melamed. Na atual, os curadores levaram aos limites da radicalidade as suas fundamentações teóricas, com a importação de grupos internacionais e a fixação de companhias brasileiras. Alguns exemplares de um novo jogo teatral proposto pela Mostra Sesc 2012 de teatro:

O Poder da Loucura Teatral
Jan Fabre e Cia Troubleyb (Bélgica)
Experiência de performance cênica de Jan Fabre
O espetáculo, originalmente criado na década de 80,  com atores, bailarinos e cantores de diferentes países, propõe nesta encenação performática de 4h20 de duração, a subversão e inversão das convenções e formas artísticas clássicas e tradicionais, acrescentando fatos e reflexões sobre o desenvolvimento do teatro nos últimos 20 anos. Apresentada em quatro idiomas, como forma de afirmar seu potencial de tecer uma apologia e simultaneamente uma crítica à globalização e uniformização do mundo, a obra de Jan Fabre  investiga as possibilidades do poder transformador do teatro, mesclando linguagens e referências - como as de Hans Christian Andersen, Richard Wagner, Michel Foucault. A trilha sonora é assinada por Wim Mertens.

O-Z
Cia Fanny & Alexander (Itália)
Versão cabeça de O Mágico de Oz
Três espetáculos distintos fazem parte de ciclo cênico dedicado ao Mágico de Oz, baseado no livro de Lyman Frank Baum e no filme de Victor Fleming. Em Ele, um ditador-ator, obcecado pelo filme, dubla ininterruptamente, assumindo todos os personagens que vê na tela que, ao fundo do palco, exibe o filme com Judy Garland. Em Cidade Esmeralda, a segunda parte da trilogia, é explorada a idéia de miragem e utopia através de entrevistas com quatro dezenas de pessoas, de línguas e culturas diversas, em que o Mágico coordena esse arquivo sonoro de emoções e desejos. Cada espectador recebe fones de ouvido, que criam uma espécie de relação direta com a mente do Mágico de Oz. Na terceira, o público é  “aprisionado” junto com Dorothy por misterioso tipo de encantamento, uma brincadeira com a linguagem capaz de interferir em nossa capacidade de expressar opiniões, de tomar decisões, de dizer sim ou não às coisas que são propostas. Direção, cenário e luz de Luigi de Angelis.

Herói Neutro
New York City Players e Richard Maxwell (Estados Unidos)
Versão minimalista dos Estados Unidos profundo
Apoiado por estética cirurgicamente precisa, o anti-teatro intimista de Richard Maxwell expõe mitos antigos latentes sob a vida moderna americana. Essa ópera country revela-se um épico desconcertante sobre a vida na América mais profunda, através de um tom de neutralidade alienante. No palco vazio, que remete à vastidão do céu do oeste dos Estados Unidos, pessoas comuns relatam passagens de seu cotidiano. Cantam com desnorteante ingenuidade, até que algo misterioso começa a se revelar para além de suas existências, como a violência de heróis trágicos da mitologia, como Ulisses, Gilgamesh ou Enéas.

                                                        macksenr@gmail.com