domingo, 15 de abril de 2012

15ª Semana da Temporada 2012

Passadismo no Solar de Botafogo

Crítica/ Amor e Ódio em Sonetos
Velha cartilha para plateias veteranas
Leonardo Talarico é responsável pelo texto e direção desta montagem que pode ser vista aos sábados e domingos no Solar de Botafogo. As mulheres da vida de Leon Tólstoi, a esposa Sônia e a filha Sasha, se entrechocam por divergir das posições ideológicas e da cessão de direitos autorais do autor de Guerra e Paz. Ao traçar as características emocionais de cada uma delas, tendo como referência a biografia do homem de suas vidas, Talarico escolheu o melodrama, com muitos solilóquios e perceptível pesquisa, com ganchos folhetinescos e oportunidade de brilho para uma atriz. Tudo como manda a velha cartilha de uma escritura para induzir emoção na plateia. O resultado é recompensado pela aceitação do público, em especial o mais veterano, que reconhece no texto e na montagem, gêneros teatrais cada vez mais raros no mercado. O espetáculo segue o mesmo enquadramento tradicional, do cenário à interpretação. É um mergulho no passado, como se assistíssemos a encenação de há décadas, com cuidados no figurino, na iluminação, e nas atuações. Tanto Juliana Weinem quanto Amandha se conduzem com empenho que posssibilita que suas personagens se tornem credíveis. Auxiliadas pelos truques do texto, manipulam os fios narrativos, puxando-os nos momentos que sabem poder agarrar a plateia. Conseguem impressionar os que se deixam levar por bravatas.    


Crítica/ Uma Sociedade
Perdidas no tempo e soltas no espaço cênico
Esta adaptação para conto de Virginia Woolf vem de Florianópolis e chega ao Rio para apresentações às quartas e quintas no Solar de Botafogo. A montagem faz temporada carioca, ao que parece, como vitrine do teatro realizado fora do eixo, pretendendo por aqui, mais do que avaliação de suas qualidades e eventuais defeitos, sanção para avalizar próximas produções na cidade de origem. É difícil compreender, para além deste objetivo, as razões que trouxeram o grupo para tão longa ocupação – a estréia foi no final de fevereiro, terminando na próxima quinta-feira, dia 19 – do teatro de Botafogo. Afinal, se o espetáculo pode ser analisado a partir da realidade da produção local, ao se deslocar para outra geografia parecerá, tão somente, anacrônico.  A começar pela transcrição teatral de conto inexpressivo e fora do tempo, incapaz de se tornar plausível nos dias atuais. No início do século passado, grupo de seis mulheres inglesas se reúne para fundar sociedade doméstica de “fazer perguntas”, em que entre chávenas de chá, briguinhas feminis e platitudes variadas, procuram justificativas para se encontrarem. As perguntas que se propõem e os objetivos que se traçam ficam perdidos em diálogos improváveis e desejos mal esboçados. Nada do que dizem se assemelha à atitudes passíveis de ser reconhecidas como verdadeiras, muito menos como mulheres com reais inquietudes, como superficialmente se apresentam. Montar tal texto é desprender-se de seu tempo e mimetizar uma forma de teatro que ficou em algum lugar na história do espetáculo.   

                                                                        macksenr@gmail.com