sábado, 24 de março de 2012

Mambembão 2012


Pernambuco/ Essa Febre Que Não Passa
A fixação de flagrantes do eterno feminino 
Na origem desta produção do Coletivo Angu de Teatro, de Recife, estão os contos de Luce Pereira, decisivamente femininos. São situações em que mulheres percorrem a sua condição através de flagrantes de relacionamentos, memórias e desajustes individuais. A autora, a julgar por essa seleção, fala da mulher a partir dela mesma, com o homem como  figura secundária (apenas na última cena, ele se impõe pelo poder do abandono). Essa característica, tão ausente em escritoras que depõem sobre o eterno feminino, valoriza a escrita da pernambucana, ao menos como fixação temática. Literariamente, os contos de Luce são menos originais e reproduzem um certo modelo do gênero, resultando em imagens gastas. A introdução do humor, quando a autora se mostra mais solta e manipulando a palavra de modo coloquial (como referência, o conto sobre os nomes estranhos, e na prosódia da empregada), se revela mais espontânea. A adaptação desse material para o teatro encontra na direção dupla de André Brasileiro e Marcondes Lima, e na perceptível entrega do elenco os canais expressivos que o sensibiliza. Em cenas envoltas por ambientação onírica, em cenário de finas cortinas transparentes, as atrizes desenham em movimentos de corpos expostos, as pulsações do feminino. Os diretores criam para cada um dos contos ritmo que procura acompanhar o tom das palavras, ainda que haja pequenos delays entre os quadros, estendendo a narrativa. Do grupo de atrizes, Mayra Waquim explora bem o aspecto do humor; Nínive Caldas tem participação correta no grupo; Márcia Cruz sustenta com destemor personagem que poderia se tornar piegas; Hilda Torres investe em uma imagem de juventude; Hermila Guedes associa elegância natural, com tensão; e Ceronha Pontes se destaca, não só na primeira cena, quanto em Tango para Frida Khalo.

                                                      macksenr@gmail.com