sexta-feira, 28 de outubro de 2011

40ª Semana da Temporada 2011


Dois Estilos (Econômicos) de Musicais

Crítica/ A Aurora da Minha Vida – Um Musical Brasileiro
Evocações dos bons e cruéis tempos da escola
Naum Alves de Souza é um autor dos anos 80. Foi nesta década do século passado que o dramaturgo paulista produziu a maioria de sua obra. Além de A Aurora da Minha Vida, que agora ganha o aposto de Um Musical Brasileiro e pode ser visto no Teatro Sesc Ginástico, Naum escreveu, no mesmo período, No Natal a Gente Vem Te Buscar e Um Beijo, Um Abraço, Um Aperto de Mão, o núcleo central de sua dramaturgia. Trinta anos depois, quando Aurora volta em formato de musical, constata-se a integridade dramática de um texto que os anos não arranharam. A escrita dos bons e cruéis tempos da escola risonha e franca, em que o bullylng existia mas sem o pedantismo da denominação inglesa, está acondicionada pelas repressões religiosas e sociais da infância dos anos 50. O equilíbrio narrativo que Naum Alves de Sousa conseguiu ao adotar o humor em contraponto a toques dramáticos, mantém a eficácia de comunicação da versão original. A trilha musical de Marcos Leite e Roberto Gnatalli, com letras do autor, acrescenta novo elemento que funciona como intervenção mal absorvida pela estrutura do texto. A música, sem características marcantes – as quase 40 canções variam de ritmos, mas não compõem unidade sonora  dramaticamente reconhecível – se dilui e se esvazia por entre as situações, quebrando o ritmo da cena. A trilha se interpõe à ação como complemento acessório que pouco acrescenta à tessitura desse retrato melancólico e evocativo dos tempos das carteiras escolares. Apesar da superposição musical algo postiça, A Aurora da Minha Vida provoca reação extremamente receptiva, em especial no segundo ato, quando a platéia responde com emoção chorosa o que se passa no palco. Tanto tempo depois de sua estréia e com tantas mudanças na vida cotidiana e escolar, a peça resiste, até mesmo, a esse adereço dispensável. Na direção, Naum domina o seu material dramático confortavelmente. O elenco – Ana Velloso, André Dias, Ester Elias, Helga Nemeczyk, José Mauro Brant, Thelmo Fernandes, Vera Novello e Victor Maia – desempenha como um grupo, harmonicamente integrado, as variações do humor e dos quadros que exigem rápidas mudanças interpretativas. Os atores se desdobram em papéis que pedem  versatilidade, exibida com generosidade.         


Crítica/ 4 Faces do Amor
Jogral da paridade dos afetos 
Esse musical escrito por Eduardo Bakr, em cartaz no Teatro das Artes, é de um tipo particular do gênero. Utilizando músicas selecionados no repertório de Ivan Lins, 4 Faces do Amor é, basicamente, um jogral narrativo que percorre os sentimentos de um casal que, do encontro ao desencontro, vive a convivência na insegurança e com ciúmes. O truque do autor está em que o casal é representado por quatro atores, que se revezam nos papéis, ora como um par formando por gêneros diferentes, ora pelo mesmo gênero. O entrelaçamento é uma forma hábil de unificar, numa relação afetiva de composições diferentes, as mesmas situações afetivas que afligem qualquer casal. De maneira delicada e sutil, evidencia-se a correspondência que ameniza e amplia a paridade dos afetos. A introdução da música, selecionada entre as menos conhecidas de Lins, serve para sublinhar as emoções. Nas canções, as letras são determinantes para que ressoem como extensão das vivências.Talvez não seja um modo muito inventivo de musicar a dramaturgia, mas pela medida e alcance que Bakr parece ter pretendido – a encenação é bastante simples, se concentrando no jogo da duplicidade – a trilha funciona pela oportunidade de encaixar-se como consequência dos diálogos. Mas em relação à música, o destaque é da direção musical de Liliane Secco, que realizou trabalho sofisticado que, não só valorizou as canções, como as encorpou com refinados comentários sonoros. O trio de instrumentistas – Liliane Secco (piano), Kelly Davis (violino) e Fábio Almeida (violoncelo) – é outro ponto a ressaltar. O quarteto de atores – Gottsha, Adriana Quadros, Cristiano Gualda e Mauricio Baduh – canta com expressiva entrega o derramado repertório romântico.              


Cenas Curtas

As queixas sobre os preços dos ingressos de teatro estão sensivelmente arrefecidas. A média de preço da entrada inteira, na maioria dos teatros cariocas, é de R$ 40,00. O bilhete mais caro custa R$ 120,00 e o mais barato R$ 6,00, mas como grande parte do público paga meia entrada, os valores caem 50% nas bilheterias. Algumas salas de espetáculo, aquelas mantidas por instituições bancárias, empresas de telefonia e pela administração pública, mantêm política de preços convidativos. O Centro Cultural Banco do Brasil cobra em seus teatros R$ 6,00 a inteira, enquanto o Oi Futuro, R$ 15,00 e alguns teatros da prefeitura R$20,00, o mesmo preço praticado pelo Espaço Sesc.     

A carência de salas de teatro na cidade parece se agravar. Com o segundo incêndio durante as obras de reforma do Teatro Villa Lobos, não se tem mais previsão de sua reabertura. O desaparecimento do Glória, que gerou promessa de construção de teatro semelhante em outro ponto, caiu no vazio do silêncio. Com a produção sem espaços para se apresentar, as temporadas das montagens ficam cada vez mais curtas – algumas, verdadeiramente meteóricas – sem possibilidades de criar lastro com o público. Em comparação com São Paulo, onde cada  unidade  do Sesc conta com, pelo menos, um teatro, e grandes salas, como o Alfa, o Bradesco e o Raul Cortez podem abrigar produções maiores, o Rio está relegado a ver desaparecer casas de espetáculo e não surgir nenhuma que as substituam.

                                  macksenr@gmail.com