domingo, 4 de setembro de 2011

33ª Semana da Temporada 2011


Crítica/ Na Selva das Cidades

Sentimentos como objeto de disputa interminável
Bertold Brecht, autor de Na Selva das Cidades, em cartaz no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil, para além da sua teoria e práticas cênicas, em que a ação política e a recepção da platéia adquirem sentido intervencionista como concepção própria da sua dramaturgia, há um Brecht anterior à essas conceituações. O autor arranha outras zonas expressivas, por mais que fundamente cada um dos seus passos no palco, com proposições que escondem outros aspectos de sua obra. Na Selva indica uma descrença no homem que aponta na direção de causas que lhe são inerentes e equidistantes das exteriores, afirmando, dúbia e  ironicamente, que “um homem é um homem”. O que pode ser interpretado de maneira bastante larga. Quase niilista, poeta de uma humanidade irremediavelmente decaída (sem qualquer conotação de cunho religioso), Brecht dimensiona o homem em seus mais intrínsecos impulsos (sem qualquer conotação psicológica). Dois homens estabelecem luta, em que cada um investe na destruição do outro, numa sucessão de vilanias, nas quais se ressaltam pulsões que fazem do combate um elemento constitutivo do seu caráter. Destruir o oponente é uma forma de manter o estado de beligerância, não importam os motivos. A hostilidade os caracteriza. A fábula, entre tantas que Brecht escreveu, parecerá reiterativa na sua permanente argumentação e contra-argumentação, nem sempre transcritas com clareza na versão dramática. Mas talvez a melhor pista que o autor ofereça, esteja num dos últimos diálogos, quando Shlink “explica” para Garga as razões de sua atitude belicosa. Será uma justificativa “metafísico-filosófica” para a animalidade humana? Ou tão-somente, demonstração de um jogo de sentimentos perversos? Aderbal Freire- Filho utiliza na encenação recursos que remetem às teorias brechtianas, como caráter expositivo para descrever a ação que se segue. São recursos a instrumentos de percussão, falas em alemão, e canções de outros textos do autor. Numa linha de interpretação que mensura esse distanciamento proposto na introdução das cenas, Aderbal conduz o elenco como personagens que se demonstram, antes de serem “vividos”. Neste sentido, cumprem-se as premissas de estilo de atuação - não ilusória e sem magia – mas que o diretor nutre com as emoções dos personagens. Aderbal manuseia a relativa aridez e o compulsivo derramamento verbal do texto, com modulações que emprestam carga menos rígida às atuações.  Marcelo Olinto projeta com a mesma variante das situações vividas por Garga, a ingenuidade perplexa do homem que chega à cidade e é jogado à ferocidade urbana de luta interminável. Daniel Dantas, em nenhum momento adota postura de um malaio, origem de  Schlink. Interpreta um indivíduo em ebulição, em que o confronto é um comportamento determinante de sua humanidade. Maria Luiza Mendonça adensa os desejos de Maria e o conformismo depois de tantos papéis que lhe foram impostos. Fernanda Boechat, Inez Viana, Joelson Medeiros, Leonardo Netto, Milton Filho e Patrick Pessoa têm intervenções que reforçam o espectro harmônico do elenco.              


Cenas Curtas

Já está no ar  o site nelsonrodrigues.com.br, que marca o início da celebração do centenário do autor de Toda Nudez Será Castigada. Nascido em 1912, em Recife, Nelson Rodrigues deverá ter várias encenações ao longo do ano próximo – agosto é o mês de seu nascimento. Mas as homenagens se anteciparão. Em fevereiro, será tema do enredo da escola de samba Viradouro.

Não Me Diga Adeus, de Juliano Marciano foi o vencedor da Seleção Brasil em Cena 2011, projeto do Centro Cultural Banco do Brasil, que escolhe em concurso de dramaturgia texto que se destaca em leitura dramática. Este ano, concorreram 252 peças, e o vencedor, de São Caetano do Sul, além do prêmio de R$ 5 mil, ganha encenação, com estréia em novembro, no Teatro III, com direção de Gilberto Gawronski.

As editoras estão publicando cada vez mais autores teatrais “clássicos”. Em edição da Companhia das Letras, Oscar Wilde – A importância de Ser Prudente e Outras Peças reúne a dramaturgia do autor. A Tordesilhas lança Assim É Se Lhe Parece, texto basilar de Luigi Pirandello. E a Record, em As Guerras de Shakespeare, de Ron Rosenbaum debate as disputas acadêmicas em torno da obra do autor de Rei Lear.

Já está definida a estréia do musical Judy Garland – O Fim do Arco Íris, dirigido pela incansável dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, com a atriz Cláudia Netto no papel da atriz do filme O Mágico de Oz. Será no dia 11 de novembro no Teatro do Fashion Mall.

                                                        macksenr@gmail.com